Por que não devemos separar moda sustentável de moda consciente
Entenda a diferença e saiba como ter um consumo consciente

Nos últimos tempos, muitas marcas foram levadas a repensar o seu modelo de negócio e a buscar alternativas mais sustentáveis. Ao contrário da indústria tradicional, a moda sustentável se preocupa em usar materiais que oferecem menos riscos ao meio ambiente e em melhorar a qualidade de vida das pessoas que fazem parte dessa cadeia produtiva.
Por conta da moda sustentável ser da responsabilidade das empresas, muitas vezes esquecemos de fazer a nossa parte. E aí é que entra a moda consciente, que é quando evitamos consumir em excesso e nos preocupamos com as questões ambientais e sociais na hora de comprar uma roupa.
Em outras palavras, é se responsabilizar pelos impactos que nossas ações causam ao meio ambiente.
Impactos ambientais na indústria da moda
De acordo com dados da ONU Meio Ambiente, a indústria da moda é responsável por entre 8% e 10% das emissões globais de gases-estufa, mais que a aviação e o transporte marítimo juntos. O setor é o segundo da economia que mais consome água, além de produzir cerca de 20% das águas residuais do mundo.
Em termos de consumo, em média, as pessoas compram 60% mais itens de vestuário do que há 15 anos. Sem contar que cada peça é deixada no armário por metade do tempo de antes. E todo esse consumo desenfreado favorece a exploração de mão de obra.
Além disso, por ano, US$ 500 bilhões são perdidos com o descarte de roupas que vão direto para aterros e lixões.
Moda sustentável e moda consciente: uma dupla inseparável
Imagina que você decide comprar só roupas sustentáveis. Mas continua consumindo e descartando desenfreadamente porque acredita que agora você está “ajudando” o planeta. Este hábito vai justamente contra a sustentabilidade.
“Tudo em excesso é potencialmente prejudicial, e o consumo desenfreado de produtos sustentáveis não foge à regra”, afirma Cintia Kita, gerente comercial da TriCiclos Brasil, empresa que busca soluções no tratamento de resíduos e reciclagem.
Empresas eco-friendly (aquelas que se comprometem com o meio ambiente), costumam substituir fibras sintéticas e orgânicas, como o poliéster e o algodão, por tecidos biodegradáveis. Eles são produzidos a partir de materiais biológicos (folhagens, colônias de bactérias, fungos etc) e se decompõem mais rápido, ajudando a diminuir o acúmulo de lixo.
Porém, ainda não existe um tecido que não ofereça absolutamente nenhum risco ao meio ambiente. Por isso, a moda sustentável não é eficaz sem a moda consciente — sem que haja uma mudança no hábito de consumo.
Outro exemplo é o uso do plástico. Pasmem: ele não é o vilão, como defende a bióloga Daniela Lerario, colíder de estratégia da Climate Champions. O plástico tem inúmeras funções bastante eficientes. O problema está na forma como é consumido e descartado.
Portanto, a moda sustentável só será benéfico para o planeta se estiver de mãos dadas com a moda consciente, ou seja, se cada um fizer a sua parte.
Como praticar a moda consciente
Aqui vão algumas dicas de como ter um consumo consciente de roupas:
Autoconhecimento
O autoconhecimento é a base de tudo. Quando nos conhecemos, sabemos o nosso verdadeiro estilo e o que realmente queremos. Assim, evitamos comprar por impulso e ser influenciados pelas tendências e propagandas. Não precisamos de muito quando nos satisfazemos (e identificamos) com um, certo?
Um jeito simples de se conhecer é fazendo perguntas para si mesmo: Quem sou eu? Do que eu gosto? Isso combina comigo? Ou eu quero usar apenas para estar na moda? Por que estou comprando? Eu realmente preciso disso?
Slow-fashion x fast-fashion
Antes de comprar uma roupa, procure saber mais sobre o produto e a empresa. Você pode fazer as seguintes perguntas: Da onde vem? Como é produzido? Quem são as pessoas que estão envolvidas no processo? Como elas são tratadas? Que tipo de material é utilizado? Para onde vão quando seu ciclo de vida chegar ao fim? A empresa é transparente?
“Existe uma relação estreita entre a moda sustentável e a moda consciente. Quanto mais informação o consumidor tiver sobre como se dá a produção da indústria têxtil, mais exigente e consciente ele será em relação aos seus hábitos de compra”, afirma Cintia.
No que diz respeito às lojas fast-fashion, para a maioria destas perguntas, a resposta é negativa. São empresas que produzem em massa para atingir o maior número de pessoas possível e visam o lucro em detrimento do meio ambiente, da mão de obra e da qualidade do produto.
Já as lojas slow-fashion, a produção é mais lenta e segmentada. Além de respeitarem os aspectos ambientais e sociais, a qualidade e a durabilidade das roupas são melhores, evitando assim o seu descarte.
Upcycling e descarte correto
Ter um consumo consciente de roupas é também pensar para onde ela vai depois que a jogamos fora.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), no Brasil, são geradas cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano, sendo que 80% vão para aterros. Dependendo do tecido, pode levar anos para se decompor, prejudicando o solo e os lençóis freáticos e liberando gases de efeito estufa.
Por isso, antes de se desfazer de uma roupa, pesquise combinações diferentes que você pode fazer com a mesma peça.
Pode ser que um conserto ou uma reforma também possibilitem novas formas de usá-la. O upcycling, por exemplo, é uma alternativa que está cada vez mais em alta no mundo da moda. Mais do que reciclar, é o processo de criar algo inovador a partir de itens antigos.
Procure doar roupas para instituições sociais. Além de ajudar o meio ambiente, você ainda ajuda as pessoas que precisam. A venda e troca de peças usadas também é uma ótima alternativa.
Mas, se a roupa não estiver em bom estado, existem pontos de coleta que a destinam para a reciclagem.
Segundo Cintia, o conceito de consumir remete ao desgaste e dano do produto. Ela sugere que, em vez disso, passemos a usufrui-lo. Isto é, aproveitá-lo ao máximo buscando sempre fechar o seu ciclo de vida útil.
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